Mensagem de Elvis aos făs
Olá! Sou Elvis Presley. Acho que a primeira coisa que as pessoas querem saber é por que não consigo ficar parado quando estou cantando. Algumas pessoas batem os pés, outras estalam os dedos e outras simplesmente se movimentam para frente e para trás. Eu apenas comecei a fazer todas essas coisas ao mesmo tempo, creio. Cantar rhythm and blues realmente mexe com a gente. Eu observo meu público e o escuto. Sei que todos estamos sentindo algo que vem de fora de nosso ser, mas nenhum de nós sabe o que é. O importante é que voltamos ao normal e ninguém sai ferido.
Suponho que vocês saibam que tenho diversos carros. As pessoas têm escrito sobre isso nos jornais e muitas delas me perguntam o porquê. Bem, quando eu era motorista de caminhão, cada vez que um carrão brilhante passava por mim eu sentia algo como um bom presságio. Sempre senti que algum dia, de alguma forma, algo iria acontecer para mudar tudo para mim; então eu ficava imaginando e sonhando com a forma como tudo iria acontecer.
O primeiro carro que comprei foi o mais bonito que jamais vi. Era de segunda mão, mas eu o estacionei próximo ao hotel onde estava, no dia em que o comprei, e passei a noite toda acordado apenas admirando-o. No dia seguinte, ele “pegou fogo” na estrada.
Em muitas das cartas que recebo, as pessoas fazem perguntas sobre o tipo de coisas que faço e questões desse tipo. Bem, eu não fumo e não bebo e gosto de ir ao cinema. Talvez algum dia eu tenha a minha própria casa e família e não vou fugir disso. Eu fui um filho único, mas talvez meus filhos não sejam. Suponho que esse tipo de assunto levanta uma outra questão: Estou apaixonado? Não, eu achei que estava, mas creio que não. Tudo passou. Creio que ainda não conheci a garota para isso, porém encontrá-la-ei e espero que não demore muito porque às vezes sinto solidão. Sinto-me solitário bem no meio de uma multidão. Acredito que com esta garota, seja ela quem for, não estarei solitário nunca mais.
Bem, obrigado por deixar-me falar a vocês sobre coisas que há muito gostaria de conversar. Quero agradecer a todos os meus fiéis fãs que assistem aos meus shows e que de alguma forma tornam-se meus amigos. Fico muito contente por saber que vocês têm ouvido discos da RCA Victor e quero agradecer aos dis-jóqueis por tocá-los.
Tenho medo de acordar a cada manhã. Não acredito que tudo que tudo isto tenha acontecido a mim. Só espero que isto possa durar.
Obrigado a todos os meus fãs jovens e fiéis. Ganhei muito dinheiro de repente. Há duas semanas, eu dirigia um caminhão por trinta e cinco dólares semanais em Memphis, no Tennessee, e antes disso cheguei a trabalhar por catorze dólares por semana como lanterninha em um cinema.
Então, um dia meu pai deu-me um violão. Muito embora eu não distinguisse um Dó de um Ré, finalmente aprendi a tocar.
Minha carreira como cantor começou acidentalmente. Eu fui a uma gravadora para fazer um disco e dar à minha mãe, somente para surpreendê-la. Uns homens ali me ouviram cantar e disseram que eu deveria procurá-los algum dia. Eu fiz isso... um ano e meio mais tarde.
Um deles era Sam Phillips, o proprietário da Sun Records, e eu gravei dois discos para ele. Aconteceu que o sr. Steve Sholes, o cabeça da RCA no estilo country-western, ouviu um desses discos e quis que eu assinasse um contrato com sua companhia. Foi o sr. Sholes que me trouxe Heartbreak Hotel para gravar e, como se sabe, essa música tornou-se um enorme sucesso e vendeu mais de um milhão de cópias.
Muitas pessoas me perguntaram onde adquiri meu estilo de cantar. Bem, eu não copiei meu estilo de ninguém. Não tenho nada em comum com Johnny Ray, exceto o fato de que ambos cantamos – se podemos chamar isso de cantar.
Eu fico pulando e dançando porque é assim que eu me sinto. Não poderia cantar uma nota sequer parado.
A garotada é realmente maravilhosa com o jeito como eles reagem ao meu estilo. Recebo cerca de dez mil cartas de fãs por semana. Muitas pessoas por todo o país estão abrindo fã-clubes para mim.
Certamente, sou muito grato a todos eles e, em resposta a algumas das perguntas que recebo deles, aqui vão algumas estatísticas sobre mim mesmo:
Eu nasci em Tupelo, no Mississipi, no dia 8 de janeiro de 1935. Cresci e estudei em Memphis, que ainda é o meu lar. Nunca tive aulas de canto e a única prática que tive foi com uma vassoura, antes que meu pai comprasse o meu primeiro violão.
Tenho 1,82 e peso 88 quilos. Ganhei perto de dez quilos no ano passado. Não posso entender isso porque meu apetite já não é tão bom quanto antes. Não tenho tempo para refeições regulares, pois estou sempre viajando pelo país, trabalhando numa cidade diferente a cada dia.
Normalmente tenho engolido um sanduíche rápido entre os shows, mas, quando posso, gosto de um belo jantar com três pedaços de carne de porco com muito molho e purê de batatas.
Eu entendo que deve haver muitos rumores a meu respeito. Começo a pensar que há mais rumores sobre mim do que fatos. Pouco tempo atrás, acharam que havia morrido. Bem, eu vivo na ativa, como sempre estarei.
Não me parece que eu venha a ter algum descanso e minhas horas de sono têm diminuído terrivelmente. Quando muito, consigo dormir realmente por duas ou três horas por noite. Houve até um rumor de que havia atirado em minha mãe. Bem, isso é pura bobagem. Ela é minha namorada mais querida e comprei uma casa para ela e meu pai em Memphis, onde espero que vivam por muito, muito tempo. Fiz meu pai aposentar-se alguns meses atrás. Não havia muito sentido em seu trabalho, pois eu posso ganhar em um dia mais do que ele em um ano. Também houve rumores de que iria me casar. Bem, eu não tenho planos para isso agora e não estou compromissado. Acho que ainda não encontrei a garota certa. Além de discos e shows ao vivo, estou ansioso para fazer um filme. Fiz um teste, dois meses atrás, e assinei um contrato com a Paramount Pictures. Devo fazer esse filme até o final do ano.
Na verdade, tudo está tão bem comigo que custo a acreditar que não seja um sonho. Espero nunca acordar.
(Fonte: Elvis in His Own Words, Mick and Marchbank, Pearce Farren, Nova York, Omnibus Press, 1977.)