Entrevista de Elvis nos anos 50
Entrevista do Rei à Imprensa nos anos 50
Entrevistador: Você está feliz agora ou era mais feliz quando dirigia um caminhão e podia tomar calmamente um copo de café?
Elvis: Sou mais feliz agora, de várias maneiras, e em alguns aspectos eu me divertia muito antes.
Entrevistador: Você sairá do país algum dia?
Elvis: Sim, eu gostaria muito. Gostaria mesmo. Quanto a deixar a carreira, jamais farei isso, enquanto tudo estiver bem.
Entrevistador: O que você chama de “estar bem”?
Elvis: Bom, enquanto houver público, enquanto se está agradando às pessoas, é uma tolice parar.
Entrevistador: Elvis, você gostaria de dizer algo a todos que estão nos ouvindo esta noite? Você gostaria de dizer “olá!” para a mamãe?
Elvis: Claro que sim. Quero dizer a todos o quanto gostei de estar aqui, o quanto gosto de todos eles e tudo o mais. Continuarei a fazer o melhor de mim para continuar a agradá-los, gravar canções e fazer filmes.
Entrevistador: Como você pensa no futuro? Quais são seus planos?
Elvis: Tenho duas editoras de música e tenho, como já disse, um contrato de sete anos com a Paramount Pictures, com aumento anual que me é oferecido.
Entrevistador: Quando se vendem coisas pelas ruas com a inscrição Eu gosto de Elvis ou em outras frases, você recebe algum dinheiro? E quando se vende um “botão” com a frase Eu odeio Elvis você recebe alguma porcentagem?
Elvis: Para ser sincero, não sei dizer. Na verdade não sei quem vende “botões” dizendo Eu odeio Elvis.
Entrevistador: Uma coisa que deve ser piada recente é o fato de que, quando você for para o exército, terá de cortar seus cabelos. Como se sente sobre isso? Haverá muita publicidade nos jornais a esse respeito. Não o incomoda?
Elvis: Não, eu não me importo. Eu terei meus cabelos de volta. Se fosse o caso de não poder tê-los mais, aí então eu me preocuparia.
Entrevistador: E quanto a suas costeletas, sua marca registrada?
Elvis: Bem, eu estou grudado nelas. Eu as tenho há muitos anos, desde quando tinha dezesseis anos, e não posso livrar-me delas agora.
Entrevistador: Como é a indústria de entretenimento?
Elvis: Tem suas vantagens e desvantagens.
Entrevistador: Você não gostaria de ter privacidade o tempo todo?
Elvis: Bem, essa é a questão mais importante, quero dizer, naturalmente não se pode ir a qualquer lugar como as outras pessoas. Não se pode ir ao cinema local e coisas do gênero. Como na minha cidade, se eu quiser ir ao cinema, tenho de dar um jeito de fazê-lo quando o cinema fecha, à noite. Lá existe um parque de diversões e às vezes tenho de alugá-lo quando ele fecha.
Entrevistador: O que é este lindo anel em sua mão esquerda?
Elvis: É uma estrela de safira. Uma garota me deu este anel na Califórnia.
Entrevistador: Você não tem tido muita privacidade em sua vida, não é?
Elvis: Não, senhor, não tenho.
Entrevistador: E quanto ao rumor de que você havia atirado em sua mãe?
Elvis: Bem, eu acho que este leva o prêmio. É a coisa mais engraçada que jamais ouvi.
Entrevistador: Como começou isso?
Elvis: Não tenho ideia. Não posso imaginar. Quando você mencionou o caso foi a primeira vez que o ouvi.
Entrevistador: Você fuma maconha para ajudá-lo a entrar em transe?
Elvis: (Elvis dá uma risada debochada)
Entrevistador: Você acha que viajar com seu show é mais difícil do que fazer filmes ou tevê?
Elvis: Bem, viajar é a parte mais dura. É realmente difícil. Você está numa cidade e faz um show, sai de cena, entra no carro e vai para a próxima cidade.
Entrevistador: Após um show, como você gosta de relaxar, principalmente após um como o desta noite?
Elvis: Bem, vamos tomar como exemplo a noite passada. Fizemos um show em Vancouver e não pude dormir até por volta das dez horas de hoje. Eu estava com tudo acertado e ainda assim é difícil relaxar.
Entrevistador: O que você faz antes de um show para diminuir a carga de excitação e a tensão?
Elvis: Eu apenas ando de um lado para o outro, devagar...
Entrevistador: Quero dar-lhe uma oportunidade aqui para defender-se de uma série de rumores a seu respeito que têm sido publicados. Seu estilo de dançar enquanto canta tem sido selvagemente criticado, mesmo por críticos costumeiramente gentis. Você tem algo contra eles?
Elvis: Não, não mesmo. As pessoas têm seu trabalho e elas o fazem.
Entrevistador: Como você sente a reação dos jovens para com você, especialmente as garotas? Eles sabem quem você é e daí por diante?
Elvis: Bem (risadas), esta é uma pergunta um tanto quanto difícil.
Entrevistador: É realmente difícil, Elvis, porque todos sabem que a platéia fica louca por você. Você convive bem com eles?
Elvis: Sim, convivo realmente bem. Todos eles, quando termino meu trabalho e vou para casa, me acompanham... trazem suas famílias, especialmente nos fins de semana... e tiram fotos comigo.
Entrevistador: Deve ser algo muito excitante.
Elvis: É, sim, muito excitante...
Entrevistador: Você acha que o rock-n’-roll e sua popularidade vão diminuir enquanto você estiver no exército?
Elvis: É difícil dizer. Tudo que posso dizer é que espero que não.
Entrevistador: Para você é um alívio se ver livre dos caçadores de autógrafos e garotas histéricas?
Elvis: Não é. Quando você se acostuma a isso e ninguém chega para pedir autógrafos ou se ninguém o incomoda, você começa a se preocupar. Conforme eles começam a chegar, você sabe que ainda gostam de você, e isso o faz sentir-se bem.
Entrevistador: Tivemos conhecimento de que você chegou às vias de fato com algumas pessoas. O que lemos nos jornais é verdade?
Elvis: Sim, senhor, eu imagino.
Entrevistador: Que aconteceu? Você perdeu a paciência?
Elvis: Foi somente um caso de bater ou apanhar, você sabe.
Entrevistador: O que tem começado esses incidentes na maioria das vezes?
Elvis: Alguém me bate ou tenta me bater. Quero dizer, posso aceitar tentativas de me ridicularizarem ou me caluniarem, inventam nomes e os dizem na minha cara e por aí vai. Contudo, alguns caras chegam e tentam me atingir fisicamente. Naturalmente não posso ficar parado.
Entrevistador: Qual seu esporte favorito, Elvis?
Elvis: Futebol (Elvis refere-se ao futebol americano)
Entrevistador: Você gosta de jogar futebol?
Elvis: Sim.
Entrevistador: Onde foram tiradas aquelas fotos suas jogando futebol e que foram publicadas na revista de um fã-clube?
Elvis: Elas foram tiradas num parque perto de casa.
Entrevistador: Fora dos limites de Memphis?
Elvis: Sim.
Entrevistador: E quanto à sua famosa coleção de Teddy Bears (ursos de pelúcia, muito populares nos Estados Unidos)?
Elvis: Ah! Isso começou com um rumor. Foi publicado um artigo segundo o qual eu colecionava animais de pelúcia e então me vi num mar de bichos de todos os tipos. Na verdade, eu os guardo porque as pessoas me dão de presente, mas nunca cheguei nem mesmo a pensar em colecioná-los em nenhum momento da minha vida.
Entrevistador: Você gosta deles agora porque os tem ou apenas os guarda?
Elvis: Eu os guardo. Tenho todos espalhados pelas paredes e cadeiras em toda a casa.
Entrevistador: Você lê os retrospectos e revistas sobre o show business?
Elvis: Não, se eu puder evitar.
Entrevistador: Você costuma arquivar reportagens?
Elvis: Somente as boas.
Entrevistador: Que tipo de jovem adolescente você foi? Você considera que foi bem-comportado?
Elvis: Sim. Eu fui criado num lar muito decente e tudo o mais. Meus pais sempre me ensinaram a comportar-me, eu quisesse ou não.
Entrevistador: O que você faz com quatro cadillacs?
Elvis: Não sei. Nunca tive uso para os quatro.
Entrevistador: Você deu um deles a seus amigos, não é verdade?
Elvis: Tudo que é meu é deles. Planejo ter sete, quero dizer, desejo ter sete... estive pensando num lote de carros usados Presley.
Entrevistador: Sabemos que você comprou uma casa para seus pais e, embora seu pai tenha trinta e nove anos, você insistiu para que ele se aposentasse. É verdade?
Elvis: Sim, ele pode ajudar mais em casa, porque pode tomar conta dos meus negócios e olhar tudo, enquanto eu não estiver por perto.
Entrevistador: Você causa uma histeria em massa em seu jovem público. Quando você dança, enquanto canta, isso tudo não é uma resposta involuntária à reação da platéia?
Elvis: Involuntária? Estou sempre ciente daquilo que faço, mas é apenas como me sinto.
Entrevistador: Estávamos comparando você e a reação de seu público com, por exemplo, um jogador de futebol que atua melhor como resposta ao incentivo da torcida...
Elvis: Está certo. Acho que todo artista melhora seu desempenho quando percebe que está agradando.
Entrevistador: Falando sobre canções religiosas, se você lançar um LP ou compacto, que músicas incluirá? Você já pensou a esse respeito? Já sabe o nome de alguma?
Elvis: Conheço praticamente cada canção religiosa já escrita.
Entrevistador: O que você acha de Pat Boone?
Elvis: Acho que é, sem dúvida, a melhor voz do momento, especialmente em músicas românticas. Não estou dizendo só por dizer, mas de fato penso assim. Boone gravava antes de mim e compro seus discos desde então.
Entrevistador: Que chances você acha que uma cantora teria de conseguir figurar entre as dez mais das paradas de sucesso?
Elvis: Você está falando de alguma cantora em especial?
Entrevistador: Não, de cantoras em geral.
Elvis: Não sei. Ainda não vi nenhuma. Acredito que isso vai depender do tipo de música que elas cantem. Aquilo que você grava pode levantá-lo ou derrubá-lo. Se você canta uma boa música ela vai vender, se cantar uma canção ruim, não vai.
Entrevistador: Qual sua cantora favorita no momento?
Elvis: Patti Page e Kay Star.
Entrevistador: Qual a sua canção favorita dentre as que gravou?
Elvis: Don’t Be Cruel.
Entrevistador: Andaram dizendo que suas únicas extravagâncias são seus carros. É verdade?
Elvis: Sim, é verdade. Nunca pensei quanto extravagante isso é, porque tenho muitos carros, quero dizer, ninguém os dirige. Eles ficam parados lá até os pneus murcharem. Na verdade eu não preciso de quatro. Foi só uma loucura.
Entrevistador: E quanto a suas camisas?
Elvis: Vou dizer-lhe o que fiz outro dia. Tenho um pequeno carro alemão, um Messerschmidt, e havia um cara que durante o ano passado quis muito esse carro. Ele tem loja de roupas, uma das melhores de Memphis. Hoje eu fui até lá e disse-lhe: “Você tem desejado muito esse carro, não é? Pois vou oferecer-lhe um negócio. Deixe-me pegar todas as roupas que quero”. Assim, fiquei lá por cerca de duas horas e meia e esvaziei a loja em troca do carro.
Entrevistador: O que você acha da música séria? Você a escuta?
Elvis: Musica séria?
Entrevistador: Como ópera, sinfonias...
Elvis: Na verdade, eu não a entendo. Não vou dizer que seja ruim. Apenas, eu não entendo, assim como eu não entendo o jazz.
Entrevistador: Alguma coisa mais que queira me dizer?
Elvis: Bem, gostaria de dizer que agradeço toda a ajuda que vocês têm me dado e quero dizer o quanto adoro estas pessoas maravilhosas que têm escrito para mim, comprando meus discos e assistindo aos meus shows; afinal, o que importa é o público. Ele o levanta ou o derruba.
Quero entreter as pessoas. Por toda a vida — até meu último suspiro. Mais do que tudo, quero ser um bom ator. Do tipo destes que estão aí há muito tempo. Mas não quero nunca parar de cantar.
(Fonte: Elvis In His Own Words, Mick and Marchbank, Pearce Farren, Nova York, Omnibus Press, 1977.)